As pessoas focam apenas no aspecto financeiro, esquecendo-se de que este é também um exercício psicológico, diz professora da Harvard Business School
Se você fizer uma busca na internet, a palavra aposentadoria vem acompanhada de imagens de homens e mulheres de cabelos grisalhos, quase sempre esbeltos, fazendo surfe, andando de moto, dançando numa praia deserta e uma série de bobagens difíceis de encontrar no mundo real. Na vida como ela é, de acordo com a professora Teresa Amabile, da Harvard Business School, os primeiros meses fora do ambiente profissional podem envolver uma crise existencial de contornos até dramáticos.
Sob seu comando, um time de pesquisadores entrevistou, durante quatro anos, 120 profissionais de diferentes partes dos Estados Unidos a respeito da sua visão sobre sair de cena. O estudo mostrou que, no começo, havia uma sensação de relaxamento e bem-estar com a nova situação, que logo deixava de existir – o que surpreendia a maioria. “As pessoas que planejam a aposentadoria focam apenas no aspecto financeiro, esquecendo-se de que este é também um exercício psicológico e que envolve seus relacionamentos. Temos que pensar em quem queremos ser quando nossa carreira formal terminar”, afirma a professora, que, aos 69 anos, se encontra nesse período de transição e atualmente tem uma carga horária menor.
A professora Teresa Amabile, da Harvard Business School: “as pessoas que planejam a aposentadoria focam apenas no aspecto financeiro, esquecendo-se de que este é também um exercício psicológico” — Foto: YouTube
Segundo a professora Teresa Amabile, que apresentou os resultados preliminares do levantamento no encontro anual da Academy of Management, é importante construir o que chama de “ponte de identidade”. Entre os entrevistados, muitos que tinham netos passaram a dar mais assistência aos filhos, cuidando das crianças e adolescentes ou ajudando nos deveres de casa. Havia os que redescobrem antigas paixões, como desenhar, pintar, ou fazer marcenaria. Alguns revisitaram sua trajetória em profundidade, concluindo que não sentiam qualquer prazer na antiga ocupação, e dessa forma superaram o “luto” da perda do sobrenome corporativo. Abrir um pequeno negócio ou dedicar-se a trabalho voluntário foram outras alternativas citadas. Ela diz que as empresas poderiam ajudar no processo, criando uma espécie de ritual para a despedida do empregado que mostrasse como seu trabalho foi apreciado: “se a companhia trata as pessoas com dignidade e respeito, indicando que elas são valorizadas, isso tem um efeito positivo na transição”.
Fonte: G1