Reações ao uso de psicofármacos

Uso de um novo psicofármaco
Psicofármacos

Reações ao uso de psicofármacos ou psicotrópicos – Início de tratamento

O que são efeitos colaterais?

Uma das fases mais difíceis no tratamento medicamentoso é o inicio do uso de um novo psicofármaco. Por serem de base química, os medicamentos alopáticos atuam em receptores existentes nos tecidos e células; entretanto, não é uma especificidade absoluta ou localizada em um só tecido orgânico. A maioria dos medicamentos, incluindo os psicofármacos, ativa ou inibe funções em vários tecidos e sistemas no corpo humano.

Os chamados efeitos colaterais ou adversos advêm dessa peculiaridade orgânica. Apesar do efeito regulatório das funções orgânicas, a mesma substância pode estimular ou inibir funções que não precisariam sofrer alterações por já estarem em equilíbrio.

Os efeitos colaterais são incômodos e, muitas vezes, é possível atenuá-los por meio do uso concomitante de outros medicamentos, mais tolerados e pouco relevantes em termos de efeitos. Entretanto, em alguns casos, o medicamento precisa ser suspenso e seu uso deve ser interrompido.

Nesse sentido, considera-se que um medicamento possui boa adaptação quando apresenta bons resultados com o mínimo possível de efeitos adversos.

A adaptação inicial ao tratamento seria considerada um efeito colateral?

Efeitos colaterais geralmente não passam com a persistência do uso e trazem incômodos mais significativos. Já a adaptação inicial ao uso é comum e normalmente de curta duração – geralmente entre uma e duas semanas – variando de acordo com o nível de sensibilidade da pessoa à introdução de um novo psicofármaco.

Uma forma de atenuar as reações orgânicas é titular o uso do medicamento na primeira semana. Titulação significa iniciar o tratamento com dose reduzida para, em seguida, adequá-la gradualmente para um nível terapêutico. Normalmente, esse procedimento alivia significativamente tais sintomas. A reação adaptativa é uma tentativa do organismo de se ajustar ao novo estímulo e pode gerar alguns incômodos iniciais até que o ajuste aconteça.

Um dos medicamentos que apresenta reação inicial com mais frequência são os chamados antidepressivos, especialmente os inibidores seletivos de receptação de serotonina, um extenso grupo de psicofármacos direcionados para tratamento de diversos transtornos psiquiátricos: transtorno depressivo, ansioso, pânico, obsessivo-compulsivo, de estresse pós-traumático dentre outros. Esses psicofármacos tendem, no início, a aumentar os sintomas relacionados à ansiedade, o que torna seu uso desagradável nas primeiras semanas.

O que caracteriza a hipersensibilidade a psicotrópicos?

Algumas pessoas são consideradas hipersensíveis ao uso de medicamentos psicotrópicos. Essa circunstância dificulta consideravelmente o tratamento, além de gerar desgaste e frustrações, tanto para o paciente quanto para o profissional, quando não conseguem lidar com tais eventos.

Apesar de não estar totalmente claro, percebe-se, a partir das práticas clínicas em psiquiatria, que esse tipo de paciente possui alto grau de ansiedade, quer seja como manifestação do sintoma do seu transtorno ansioso, quer seja como característica de sua personalidade.

A hipersensibilidade não coloca em risco a saúde do indivíduo; trata-se de uma reação inicial e específica que pode ser bem suportada quando manejada adequadamente. Em geral, indivíduos ansiosos são mais impressionáveis e suscetíveis a essas reações aos medicamentos. São mais atentos ao seu corpo e a todas as alterações que ocorrem em seu íntimo. Tendem, também, a ser mais sensoriais em sua percepção da realidade.

Nesses casos, além do uso concomitante de ansiolíticos no inicio do tratamento, a titulação é recomendada e colabora bastante para manejar a hipersensibilidade. É interessante que o médico oriente sobre a possibilidade desse evento para que a pessoa perceba e conheça seu caráter benigno e que também indique fazer um acompanhamento psicoterápico adequado para atuar como manejo e alívio de sintomas.

Flávio Vervloet